segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Exercícios sobre o documentário Falcão 1º anos 2013

01) Diante dos fatos mostrados no documentário, qual foi a sua primeira reação as imagens?
02) A violência tornou-se rotina na vida dos brasileiros, principalmente os menos favorecidos economicamente. Qual tem sido o posicionamento do Estado em relação a tal situação?
03) Quais são as perspectivas de futuro dos jovens ou crianças mostradas no documentário?
04) MV BILL teve acesso a uma realidade que comumente não é mostrada nos meios de comunicações, na sua opinião o que possibilitou a ele esse acesso?
05) Na comunidade em que você mora, já teve oportunidade de presenciar cenas violentas que remonta ao filme? Qual a sua reação diante de tais fatos? Alguma ação poderia ser feita para que tal fato não ocorresse?


Uma das causas do crescimento da violência urbana no Brasil é a aceitação social da ruptura constante das normas jurídicas e o desrespeito à noção de cidadania. A sociedade admite passivamente tanto a violência dos agentes do estado contra as pessoas mais pobres quanto o descompromisso do indivíduo com as regras de convívio. Ficam impunes o uso da tortura pela polícia como método de investigação; a ocupação de espaços públicos por camelôs e donos de carros; as infrações de trânsito; a incompetência administrativa; a imperícia profissional; a negligência causadora de acidentes e o desrespeito ao consumidor. Entre os cidadãos habituados a esses comportamentos, encontram eco as formas violentas de fazer justiça, como a pena de morte, linchamentos e mesmo o fuzilamento sumário. É freqüente a aprovação popular da punição violenta sem direito a julgamento.
06. Um dos problemas mais graves vividos pelas populações dos países mais pobres é a violência (principalmente nos grandes centros urbanos).
O que é violência?

07. O aumento atual da criminalidade no Brasil ainda é devido ao grande percentual de miseráveis em nossa sociedade.
Contra-argumente, indicando duas outras causas para o elevado índice de criminalidade no Brasil.

08. O SOCIÓLOGO JULIO JACOBO WAISELFISZ, de 68 anos, estuda a criminalidade brasileira há mais de uma década. Argentino, ele está no país há 30 anos.

ÉPOCA – Qual é a posição do Brasil em taxas de homicídios?
Waiselfisz – O Brasil tem 3% da população mundial, mas 11% dos homicídios. A maioria das vítimas é jovem, homem e com baixo nível cultural. Cerca de 70% são negros. Em 2004, ocorreram 27 mortes para cada 100 mil habitantes no país. O Brasil está em quarto lugar no mundo (...).
ÉPOCA – Quase metade das cidades de Pernambuco e do Rio de Janeiro estão entre as 10% mais violentas do país. Por quê?
Waiselfisz – Há uma cultura homicida nesses locais e o acesso a armas de fogo é muito fácil. (...) A campanha do desarmamento foi importante. Só em 2004, ela conseguiu baixar em 10% os homicídios no Brasil.
ÉPOCA – Mortes bárbaras têm sido freqUentes, como a de João Hélio, de 6 anos, e as dos três
franceses no Rio de Janeiro. A crueldade aumentou?
Waiselfisz – A crueldade sempre existiu. O que acontece é que esses episódios vão se avolumando com o tempo. Desde o início dos anos 90, o aumento dos homicídios foi de 5,5% ao ano, aproximadamente. (...) Vida e morte se tornaram banais. Só 10% dos assassinatos são punidos no Brasil. Quanto maior é a impunidade, maior é a violência.
(Revista Época, 21/03/2007.)
“Vida e morte se tornaram banais.”
Você concorda com essa afirmativa? Apresente dois argumentos que embasem sua opinião.

Sobre o documentário Falcão de MV BILL 2012

Falcão – Meninos do Tráfico é um documentário sobre pessoas que talvez nem façam parte da estatística, só depois que morrem. Oferece uma visão realista do tráfico de drogas nas favelas cariocas, para que nós não continuemos ignorando quem vende, quem compra, quem morre e quem mata.

Falcão é o jovem que vigia e protege os traficantes, a "boca" e os moradores da comunidade, é aquele que está no tráfico noturno.

A polícia para eles é o inimigo maior, mas pode ser também aliada, para ignorar o que acontece nas favelas: "Se acabar o crime, acaba a polícia", dizem eles, fazendo alusão ao recebimento de propinas por parte de policiais, para "melhorar o salário deles". Então preconizam que o tráfico não vai acabar tão cedo!

As armas exercem um enorme fascínio sobre estes jovens, que as define como algo que os protege, dá respeito e atrai as meninas, para eles é um instrumento de poder portar um fuzil ou uma pistola.

Foi interessante observar que tratam os mais velhos da comunidade com respeito, à exceção daqueles que os delata "X-9", para estes não importa a idade, a sentença é uma só: A morte.

Eles acham que não fazem parte da sociedade, que o morro é um caso à parte. Acham que não são nada e que estão ali para tudo, para o que vier. Não parecem ter medo de qualquer força de repressão, estão ali para enfrentar, para matar ou morrer, e a morte é vista como uma conseqüência natural para quem vive do tráfico.

Mantêm certo assistencialismo para com os moradores da favela, compram gás, brinquedos, ajudam na construção dos barracos, enfim, compram o silêncio trocando por mercadorias, doam o caixão também...

Dinheiro e poder é o que a companhia de um bandido (Fiel) traz para estes menores, segundo a concepção deles. O "Fiel" é mais importante que os outros amigos, mais importante que os pais, parece existir uma nova estrutura de autoridade para estas crianças – "...onde a bala come, a lei é a do cão"...

Alguns já adultos e com seqüelas de tiros e brigas, encontram um outro caminho e buscam uma outra maneira para sobreviver, queixam-se que o governo não pratica um salário digno e se fosse assim, a criminalidade não acabaria, mas segundo eles, diminuiria bastante.
O autor termina o documentário externando que nem ele sabe o verdadeiro motivo para explanação destes fatos, talvez para dar oportunidade à reflexão sobre um "Brasil" que muitos não conhecem, e que está virando um Monstro.
De quase todas as crianças ouvidas neste documentário podia-se perceber a revolta pela ausência do pai, da falta da estrutura familiar completa, que as orientasse, lhes desse o carinho e o aconchego de um lar. E a revolta é um grande, senão o maior indutor á criminalidade.
Além desta mudança nos valores da família e da sociedade, podemos atribuir também à péssima distribuição de renda que penalizou nosso país por tantos anos. Salários aviltantes, nem de longe dignos para prover o sustento razoável de uma família. Outro grande motivo para indução à criminalidade.
O Consumismo também, fruto maior da globalização, que planta na cabeça dos jovens idéias do poder através do consumo. Se a criança não tem as últimas novidades para apresentar na comunidade, na escola, aos seus amigos, seu conceito de gente, de humano, é inferiorizado.
O Falcão não é um caso de polícia, não é uma denúncia, não é uma lamentação. Falcão é sobretudo uma chance que o Brasil vai ter para refletir sobre uma questão do ponto de vista de quem é o culpado e a vítima. Falcão é uma convocação para que a ordem das coisas seja definitivamente mudada
“Falcão – Meninos do Tráfico” é o resultado de uma pesquisa iniciada em 1997 pelo rapper MV Bill e seu produtor, Celso Athayde. Durante seis anos, eles aproveitaram o calendário de shows para percorrer comunidades de todos os cantos do Brasil com uma câmera digital na mão e uma idéia na cabeça: registrar depoimentos e imagens dos garotos que trabalham no tráfico com o olhar de quem busca compreendê-los e não condená-los.
Falcão foi uma denúncia desse abandono que todas as comunidades sentem, pois, a não-presença do Estado nas favelas abre caminho para o fortalecimento das facções criminosas que se prevalecem desses meninos que não têm acesso ao mínimo de estrutura em educação, saúde e lazer.
A violência é um fenômeno encontrado em toda a história e que, em alguns momentos, aparece registrada de forma mais evidente e chocante.
a violência que ganha cada vez mais destaque nos noticiários sempre esteve presente na sociedade brasileira, especialmente dirigida aos grupos mais pobres. "Nosso país teve quase 400 anos de escravidão, período em que atos violentos de tortura eram legais e encarados com naturalidade pela maioria das pessoas.
Em pleno século XXI, as grandes metrópoles brasileiras apresentam ares modernos, mas estrutura social arcaica em diversos aspectos. Ney Couto Marinho atribui esse anacronismo a uma entrada ainda não consolidada na Modernidade. "Ainda não tivemos tempo de nos habituar com o Estado de Direito, a cidadania, a igualdade de oportunidades para todas as classes. Parte do povo não sente a lei a seu favor. Desconfia de que não será ouvido e, sim, perseguido sob a suposição de que ser pobre é ser suspeito."
De acordo com a “Análise dos custos e conseqüências da violência no Brasil”, estudo do Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (Ipea), publicado em junho de 2007,
estima-se que, em 2004, o custo da violência no Brasil tenha chegado a R$ 92,2 bilhões, ou 5,09% do Produto Interno Bruto do País. O cálculo leva em consideração gastos ou investimentos públicos e privados, tais como internações, pensões, perdas materiais, aplicação de recurso em segurança, despesas com proteção de carros, entre diversos outros itens.

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Exercícios sobre o filme Elefante

01) Qual significado do termo “elefante”, título do filme?
02) Quais os principais temas abordados no filme?
03) Escreva sobre a sua percepção em relação ao filme.
04) O filme é honesto e verdadeiro com sua própria posição?
05) Qual é a postura moral do filme?
06) Quais são as imagens principais do filme? Existe algo interessante em relação à iluminação, ângulos de câmera, som e o tempo que reforçaria um tema em particular?
07) O que a sociedade pode fazer para que tal fato “massacre”, não ocorra novamente?

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

A EDUCAÇÃO SEGUNDO DURKHEIM

Durhkeim e a educação para a sociedade

Para entender os pressupostos de Durkheim sobre a educação, assim como qualquer outro pensamento, e qualificar nossa consciência sobre a educação de hoje, parece ser necessário deixar de lado qualquer abordagem linear.
Existe uma rede de inter-relacionamentos entre todos os seus contemporâneos. Mesmo autores anteriores estão ligados a essa espécie de rede, que tende a não ter começo, ou seja, a história desses pensamentos é parte de uma totalidade de conhecimentos e em todo momento podemos encontrar elementos de um em outro e vice-versa.
Não gostaria de entender as idéias de Durkheim como a simples superação das idéias de outro autor, ou diagnosticar uma defasagem daquelas em relação a estas. Na verdade, percebo equívocos de compreensão quando determinamos a história como se fosse composta por degraus, ou mesmo como uma evolução qualitativa da consciência humana. Essa afirmativa ainda não é clara e carece de aprofundamento e referências, mas não posso deixar de expressar a necessidade de ver essa história como algo que se expande em um movimento antilinear, provocado por pulsos de várias experiências, que sempre estão centrífugas, mais como uma fonte do que como uma estrada.

Neste sentido, podemos contextualizar, ainda que rapidamente, qual era a realidade que estava à volta de Durkheim. Nascido em uma família de rabinos, em 1858, foi educado rigidamente. Mora durante dois anos na Alemanha e estuda Ciências Sociais com Wundt. Escreve seus primeiros artigos de sucesso em 1886. Depois disso, em 1870, começa a discutir, avançadamente à sua época, os aspectos de uma instrução pública. Em 1902, assume a cadeira de sociologia na Universidade de Paris. Foi profundamente afetado pelos fatos sociais de sua época, tanto que estes passam a ser seu principal objeto de estudo. Imerso nestes fatos: as crises da Comuna (1870-71); o caso Dreyfus (1894-99); pelo assassinato de Jaurés (1914); a Primeira Grande Guerra; ainda sofre ataques pessoais por sua ascendência estrangeira. Morre em 1917.

Na atmosfera que estabelecia, pela segunda revolução industrial, uma estruturação urbana que destruía então, muitas das relações sociais ligadas ao artesanato, assim como, todos os sistemas que não se adaptassem ao sistema de produção industrial, Durkheim inicia uma análise realizada na observação de como as capacidades das forças coercitivas atuam na determinação da conduta dos indivíduos, ou como modernamente se diz: os mecanismos de controle social. Foi aqui que Durkheim estabeleceria sua relação com a educação, que ele considerava a ação exclusivamente exercida sobre as gerações mais jovens.

Para Durkheim, a sociedade é uma determinante, e exige que o indivíduo se adapte totalmente aos seus objetivos. A educação é o principal instrumento dessa adaptação. É a educação que transforma a criança, desprovida de um senso social, em uma peça ativa da sociedade. O trabalho dos adultos sobre as "falhas" da criança, contribui para a incorporação dos princípios da sociedade da qual essa criança faz parte. Desta maneira, podemos entender, pelo prisma de Durkheim, que a história tem um papel fundamental, ou melhor, a história nos mostra como foram educados os indivíduos para a vida social. Por isso, Durkheim pressupõe ser indispensável à observação histórica para termos uma noção preliminar da educação e suas aplicações.

Nesta observação da história das sociedades e suas relações, Durkheim procura demonstrar que não podemos escapar de uma formação voltada para o bem estar desta sociedade, e que, se nos desviarmos deste caminho, poderemos causar muito desconforto à criança, e até a sua exclusão do meio social, pelas dificuldades que a criança enfrentaria se não conhecesse os valores e necessidades da sociedade em que estará inserida. Há, no entendimento de Durkheim, uma função ao mesmo tempo una e múltipla dos sujeitos sociais, ou seja, apesar de construir uma especificidade de tarefas e de trabalho, o indivíduo tem que estar a serviço de um bem maior, assim como receber e internalizar os valores coletivos que garantem o funcionamento desta sociedade, e é justamente por este aspecto que entendemos o pensamento durkheimiano como representante de uma corrente funcionalista de raciocínio, em que a absorção de princípios morais são seu fundamento. O sujeito é único enquanto sua particularidade de especialização, mas está, ao mesmo tempo, dentro de uma constelação de valores que são compartilhados com todo os sujeitos de uma mesma sociedade, caracterizados como os valores culturais a que todo os indivíduos devem ter acesso para a sua própria continuidade.

Desta maneira, Durkheim nos apresenta objeções às idealizações da educação, principalmente quando essas sugerem uma educação universal, que possa atender a todas as sociedades sem observar suas diferenças originais e históricas. Para este pensador, não há possibilidade de mudar uma instituição que foi construída ao longo de um período histórico que comanda as necessidades da formação desta instituição, pois se isso acontecer, seria necessário uma mudança na própria estrutura desta sociedade, isto porque a educação não tem esse poder, por se aplicar a estruturas já existentes, não sendo ela a criadora dessas estruturas, mas exatamente o contrário.
Esta dificuldade se impõe porque na história a educação tem variado com o tempo e o meio em que participa. Cada período histórico tem sua característica particular, o que inviabiliza a aplicação de um mesmo modelo pedagógico. Definitivamente, é impossível mudar os costumes que formam os sistemas de educação, pois a educação será sempre o reflexo da sua sociedade.

Entre esses projetos idealistas criticados por Durkheim, podemos reconhecer basicamente dois modelos. O primeiro é aquele que busca a perfeição do indivíduo ao seu extremo, como meta última na realização e potencialização dos sujeitos. Porém, Durkheim afirma que é uma contradição acreditar num desenvolvimento harmônico do indivíduo em relação às necessidades de uma tarefa especializada, que este sujeito deverá desenvolver. A outra forma idealista de educação é aquela que procura a felicidade para si mesmo e para os outros membros da sociedade. Também é contestada por Durkheim por perceber a felicidade como algo essencialmente subjetivo, o que torna impossível o seu trabalho prático na educação, que é social.

Nesta relação, una e múltipla, podemos entender que a natureza específica da educação é realmente agir sobre as gerações mais jovens e despreparadas para o convívio social, suscitando e desenvolvendo certo número de estados físicos, morais e intelectuais, que são exigidos pela sociedade no seu todo, mas também criando o espaço para o desenvolvimento das particularidades que o indivíduo está destinado a trabalhar dentro e a favor deste contexto.

A definição que Durkheim impetra para educação, sugere algumas conseqüências inexoráveis. Entre elas está a criação de um caráter social que tende a promover uma socialização metódica constante das novas gerações diante dos valores reclamados pela sociedade.

Aquelas formas particularizadas, que os membros de uma sociedade devem desenvolver dentro do seu grupo específico, sejam de trabalho ou qualquer outra estrutura de relações, forma o que Durkheim chama de "ser individual". Já as qualidades que todos os indivíduos necessitam obter na educação para participar da sociedade formam o "ser social". É o "ser social" que deve ser a meta da educação para Durkheim, ou seja, o fim dessa educação, pois é na sociedade que se expressa a moral adquirida pela educação. Esta formação se dá quando a sociedade agrega ao ser individual toda sua estrutura de vida, não se limitando a desenvolver somente o ser natural, mas sim, criando um homem novo.
A educação transmite para o indivíduo conhecimentos que a natureza nunca poderia realizar, sendo que, mesmo as qualidades que pareçam ser escolhidas pelos próprios indivíduos, são profundamente ligadas ao meio social que as prescreve como necessárias. Assim, "desejando melhorar a sociedade, o indivíduo deseja melhora-se a si próprio"(Durkheim).

Durkheim defende uma educação pública, e ainda que existindo uma iniciativa privada, esta conviveria com uma intervenção do Estado, apenas enquanto representante e vigilante da moral de que a sociedade é autora. Este Estado, irá zelar pela qualidade da mensagem da sociedade na formação do novo homem, não assumindo o papel de idealizador da formas da moral, mas sim fiscalizar os professores e os sistemas para que nenhum personalismo proíba que a nova geração saia da ignorância e do egoísmo e a barbárie da infância, para uma vida social plena de riquezas morais e princípios valorizados pela sociedade saudável.
Neste processo, a criança passará por um intenso exercício de contenção de suas extravagâncias e desejos, assim como ocorrerá a eliminação da necessidade de experiências improvisadas. A vida do estudante é se estruturar dentro de um sistema que extingue a criatividade, ou os impulsos de natureza investigativa sem um propósito científico claro e definido pelas necessidades do seu grupo social. Sendo o Estado o mediador entre essa falta primordial e a moralização dos alunos, coerentemente legitimado pela sociedade.

Todo o trabalho do educador, respaldado pela coordenação das diretrizes morais pelo Estado, será voltado para mostrar através dessa moral irredutível como deve ser o comportamento de um verdadeiro cidadão. Esta pedagogia é urgente e atende a necessidades vitais de formação das crianças, não pode esperar para se desenvolver com a pesquisa científica e retomadas críticas.
A educação, para Durkheim, é um processo em que, é fundamental destruir na criança aquilo que é inadequado para o convívio social, através da disciplina, do enquadramento e da autonomia, que aliás é, este último, um conceito pouco definido por ele, mas que podemos entender como uma síntese do trabalho dos dois primeiros fatores tornando o ser individual totalmente solícito às regras que são propostas a ele, ou seja, depois de um processo de extinção de seu egoísmo, o indivíduo passa a aceitar a moral que lhe foi impetrada e passa ele mesmo a assumir sua determinação em seguir essa moral. Torna-se autônomo em sua própria designação, sem precisar mais de nenhuma coordenação ou controle. Por isso talvez Durkheim não se estenda na definição da autonomia, ela é alcançada em um momento que o indivíduo já foi trabalhado pela disciplina e pelo enquadramento, sendo seu fruto mais tranqüilizador. É como se ela surgisse já no ser social instituído e finalizado, isto é , é mais um objetivo do que uma ferramenta.

É necessário, então, que o espaço esteja vazio, pela ação do educador, para que este mesmo educador possa incutir na criança todos os preceitos de um outro, que é a expectativa da sociedade civilizada, pois a criança não sabe amar o convívio social pela suas limitações, e assim a educação permite, amorosamente, a inserção deste novo homem, desta alteridade, depois de corretamente educado e moralizado. O aluno se transforma num pólo receptivo que irá receber, ou melhor, encarnar uma transferência de todas as normas morais.
A educação é um ato de moralização, a serviço dos interesses que a sociedade exige, enquanto realidade de vida, e enquanto estruturas formais da razão, e não da religião. Durkheim nega a moral religiosa que se apresentava como parâmetro de conduta até o início da modernidade, e esclarece que a moral laica é que pode revelar a qualidade exata da formação do novo homem, mesmo porque a religião fora criada pela sociedade. É esse Outro encarnado que, com sua moral social, irá controlar, no processo pedagógico, que o ser individual se submeta ao interesse da coletividade em que está inserido, e passe a trabalhar para a manutenção dessa moral.

É curioso entender como Durkheim e seus contemporâneos, entendiam a forma de cativar a atenção dos alunos neste trabalho de moralização, e assim transmitir da melhor maneira os atributos dessa moral laica, a salvadora e constituidora da verdadeira sociedade civilizada. Todo o processo educacional foi, então, comparado com a técnica da hipnose que, no contexto da época, era uma forma conceituada de resolver os mais variados problemas e assumia ares milagrosos.
O educador deveria assumir a atitude de um hipnotizador, expressando sua autoridade s em titubeios,e magnetizando os alunos com sua postura moral inquebrantável. Essa postura irredutível transmitiria a força insubstituível da moral racional da sociedade moderna, que estava crescendo a todo vapor, literalmente. Desta maneira, o professor seria uma fonte de desejo, pois os alunos buscariam adquirir a moral que o próprio mestre encerra, e depois buscariam o próprio âmago do bem social, sublimando ao máximo a sua participação no todo da experiência coletiva, servindo a um fim superior a ele e a todos os outros indivíduos, autonomamente, perfeitamente disciplinado e enquadrado, e por isso, disciplinando e enquadrando.

Durkheim sabia que todos têm algumas faculdades recebidas dos pais, mas que estas são muito gerais e por isso muito maleáveis e totalmente educáveis. Deste modo, entre essas qualidades inatas tão rasas e o novo homem moral necessário à sociedade, existe uma grande distância, sendo que é este o papel da educação: levar a criança a percorrer essa distância, desviando-a das degenerações morais de certos estratos da sociedade que se perderam completamente da moralidade sugerida pela razão saudável.
Com o magnetismo de um hipnotizador, a fé interior nesses princípios que esse educador aprende a amar, a personificação do dever do homem perante a superioridade da sociedade, uma vontade irredutível de se desenvolver educando os mais jovens, o professor forçará a retirada do instinto rudimentar inato à criança e a posterior internalização dos conceitos que formam sua autoridade. Através do reconhecimento por parte da criança da força moral do educador, representada por necessidades históricas e absolutamente indispensáveis, esta mesma criança, quando adulta, encontrará dentro de si, já cristalizada na sua consciência, esta moralidade. E agindo autonomamente para garantir sua liberdade perante a renúncia de si mesmo, de sua condição incivilizada e rebelde, em detrimento ao pedido irrecusável de um todo do qual agora ela faz como prioridade participar.

Esse processo é um trabalho de colonização, pois o intuito é destruir totalmente o que possa existir de individualidade, de criatividade, e instalar uma nova maneira de ver o mundo, criada absolutamente por fatores externos ao indivíduo. Procura-se a morte da subjetividade da criança ou a submissão completa aos novos parâmetros que a educação tem por mérito inculcar nas novas gerações. O objetivo é a cópia do adulto e de sua moral social, demonstrando a criança como um "ser da falta", alguém que não pode ser deixado à mercê das improvisações do individualismo egocêntrico e involuido.
Para destruir qualquer levante de uma subjetividade mais rebelde, é usada uma aclimatação dos ambientes sociais a uma censura moral permanente que exclui o sujeito que realize alguma ação fora do senso dessa moral estabelecida. Cria-se, se necessário, formas de punição que visam desestabilizar o infrator, pela vergonha ou pela própria culpabilidade de suas faltas, o que leva a valorizar ainda mais os indivíduos que os observem descumprindo o dever, por estarem eles próprios mostrando a incapacidade da subjetividade em se estabilizar no âmbito da sociedade, e fortalecendo a importância de ser submisso para ser aceito e valorizado pela coletividade. Antes de servir como castigo, a punição é um regulador que será interiorizado junto com as outras regras da moral social.

A colonização dessa criança que, segundo Durkheim, tem uma natureza avessa a novidades, ou seja, misoneísta, precisa convencê-la a desejar a regra e a disciplina, em um processo que visa dar autonomia à desse desejo. É preciso que o estudante se torne impotente perante a grandeza das propostas civilizadoras de sua sociedade. Promover uma fusão desses indivíduos na consciência coletiva, e configurar uma diluição da consciência individual na sua forma coletiva, e não a criação de estruturas pessoais associadas e participativas. É uma completa extinção de qualquer sentido fragmentado que impeça a moralização laica, cuja realização depende de revelar aos indivíduos um objetivo que os ultrapassa, em um sacrifício devoto ao amor de uma totalidade pura e humana, racional e estabelecida, para o desenvolvimento da qualidade produtiva da sociedade.

Análise do filme Elefante

Cinema na Educação
João Luís de Almeida Machado Doutor em Educação pela PUC-SP; Mestre em Educação, Arte e História da Cultura pela Universidade Presbiteriana Mackenzie (SP); Professor Universitário e Pesquisador; Autor do livro "Na Sala de Aula com a Sétima Arte – Aprendendo com o Cinema" (Editora Intersubjetiva).
Elefante
Jovens sem rumo e sem lei...

Vidas sem sentido. Pessoas que cruzam em corredores sem ter um destino certo quanto a suas vidas. Futuros incertos. O pior de tudo é quando constatamos que os corredores em que essas pessoas se encontram ao acaso fazem parte de uma escola de Ensino Médio (High School nos Estados Unidos). Mais preocupante ainda é sabermos que as pessoas cujas vidas não tem rumo são jovens, ainda transitando entre a adolescência e a idade adulta...
“Elefante”, filme do criativo diretor Gus Van Sant vem a público retratar as mazelas da vida de uma juventude totalmente perdida quanto a seus propósitos. Adolescentes que não sabem ao certo qual é ou qual deve ser sua identidade e que se confundem ao assistir documentários sobre o nazismo na televisão. Não identificam o que estão vendo como sendo um relato que procura apresentar a história de uma das maiores tragédias de todos os tempos, pelo contrário, visualizam os rituais e as práticas dos seguidores de Adolf Hitler como exemplos de uma ordem que não percebem no mundo em que vivem.
Editado de forma inteligente, tendo como base uma história real que abalou o mundo inteiro, “Elefante” não é simplesmente um documentário como “Tiros em Columbine”, de Michael Moore. Diferentemente de Moore, o filme de Gus Van Sant concentra suas energias no exame do cotidiano de uma juventude sem brilho e desprovida de perspectivas.
Nesse ínterim o ambiente escolar parece colaborar para a perpetuação da futilidade com a formação de “panelinhas” onde se reúnem estudantes que possuam status semelhante (há o grupo dos atletas, o das “patricinhas”, o dos “nerds” ou “cdfs”,...). Além da evidente segregação evidenciada pelo surgimento desses grupos, a escola não parece promover o conhecimento, estimulando o estudo e a pesquisa ou ainda como um local onde se aprendam habilidades e competências.
Nessa escola de Columbine transparece aos olhos dos espectadores que a principal atribuição das high schools norte-americanas é promover os aspectos sociais em detrimento do conhecimento, da ciência, da sabedoria...
Desprovido de efeitos especiais, sem contar com nomes famosos no elenco, tendo como locação básica o interior de uma escola e contando com orçamento reduzido para os padrões de Hollywood, “Elefante” é um verdadeiro fenômeno. Instigante, crítico, inovador na dinâmica utilizada para contar a história de uma grande tragédia americana, o filme foi premiado, com enorme justiça, com a Palma de Ouro em Cannes como melhor filme e pelo ótimo trabalho do diretor Van Sant. Imperdível!
O Filme

Várias histórias num mesmo filme. Personagens que se encontram sem que se conheçam ou mesmo que venham a se conhecer. Pessoas que habitam diariamente um mesmo local sem que saibam da existência de uma boa parcela de pessoas que naquele mesmo espaço transitam, estudam, se relacionam, projetam seus futuros (será?)...
Assim é a High School de Columbine. Assim são tantas outras escolas nos Estados Unidos e em muitos países (inclusive no Brasil).
A escola, ponto de encontro de belas garotas anoréxicas que criticam abertamente qualquer comportamento diferenciado em relação aos seus próprios; onde a crueldade de certos adolescentes em relação a outros que não se posicionam ou agem dentro de certos parâmetros gera traumas que ficam ocultos atrás de semblantes fechados, de atitudes derrotadas e medos contidos.
A vaidade impera e execra tudo o que não se encaixa nos padrões esperados de beleza. A inteligência ofende e torna seus portadores membros de guetos fechados, onde são humilhados e agredidos. Os professores e demais membros do corpo docente são agentes de uma ordem que não respeita nem mesmo o comportamento justo e adequado de quem se atrasou para evitar que um drama pessoal e familiar (o alcoolismo) se tornasse uma tragédia. A ociosidade e a falta de interesse pelos estudos promove o surgimento de uma juventude para quem atirar em latas ou em pessoas é a mesma coisa...
A tragédia de uma escola abalou uma nação e preocupou o mundo inteiro, porém que medidas realmente efetivas tem sido tomadas para evitar que outras matanças como aquela de Columbine voltem a acontecer? Será que continuaremos vendo jovens desiludidos invadindo escolas e atirando a esmo sem alvos fixos, ceifando vidas sem que possamos perceber que também somos culpados por tragédias como essas?
De que adianta colocar detectores de metais na entrada das escolas? Será que o problema vai ser resolvido com policiais circulando nos corredores para intimidar novos atentados? A expulsão dos infratores e sua condenação solucionam a questão? Será que ao definirmos atitudes como essas para resolver tais problemas não estamos dando continuidade a fórmulas fracassadas? Será que não teremos que rever muito mais, quem sabe toda a estrutura educacional, talvez a própria conformação familiar e social do mundo em que vivemos?