segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Sobre o documentário Falcão de MV BILL 2012

Falcão – Meninos do Tráfico é um documentário sobre pessoas que talvez nem façam parte da estatística, só depois que morrem. Oferece uma visão realista do tráfico de drogas nas favelas cariocas, para que nós não continuemos ignorando quem vende, quem compra, quem morre e quem mata.

Falcão é o jovem que vigia e protege os traficantes, a "boca" e os moradores da comunidade, é aquele que está no tráfico noturno.

A polícia para eles é o inimigo maior, mas pode ser também aliada, para ignorar o que acontece nas favelas: "Se acabar o crime, acaba a polícia", dizem eles, fazendo alusão ao recebimento de propinas por parte de policiais, para "melhorar o salário deles". Então preconizam que o tráfico não vai acabar tão cedo!

As armas exercem um enorme fascínio sobre estes jovens, que as define como algo que os protege, dá respeito e atrai as meninas, para eles é um instrumento de poder portar um fuzil ou uma pistola.

Foi interessante observar que tratam os mais velhos da comunidade com respeito, à exceção daqueles que os delata "X-9", para estes não importa a idade, a sentença é uma só: A morte.

Eles acham que não fazem parte da sociedade, que o morro é um caso à parte. Acham que não são nada e que estão ali para tudo, para o que vier. Não parecem ter medo de qualquer força de repressão, estão ali para enfrentar, para matar ou morrer, e a morte é vista como uma conseqüência natural para quem vive do tráfico.

Mantêm certo assistencialismo para com os moradores da favela, compram gás, brinquedos, ajudam na construção dos barracos, enfim, compram o silêncio trocando por mercadorias, doam o caixão também...

Dinheiro e poder é o que a companhia de um bandido (Fiel) traz para estes menores, segundo a concepção deles. O "Fiel" é mais importante que os outros amigos, mais importante que os pais, parece existir uma nova estrutura de autoridade para estas crianças – "...onde a bala come, a lei é a do cão"...

Alguns já adultos e com seqüelas de tiros e brigas, encontram um outro caminho e buscam uma outra maneira para sobreviver, queixam-se que o governo não pratica um salário digno e se fosse assim, a criminalidade não acabaria, mas segundo eles, diminuiria bastante.
O autor termina o documentário externando que nem ele sabe o verdadeiro motivo para explanação destes fatos, talvez para dar oportunidade à reflexão sobre um "Brasil" que muitos não conhecem, e que está virando um Monstro.
De quase todas as crianças ouvidas neste documentário podia-se perceber a revolta pela ausência do pai, da falta da estrutura familiar completa, que as orientasse, lhes desse o carinho e o aconchego de um lar. E a revolta é um grande, senão o maior indutor á criminalidade.
Além desta mudança nos valores da família e da sociedade, podemos atribuir também à péssima distribuição de renda que penalizou nosso país por tantos anos. Salários aviltantes, nem de longe dignos para prover o sustento razoável de uma família. Outro grande motivo para indução à criminalidade.
O Consumismo também, fruto maior da globalização, que planta na cabeça dos jovens idéias do poder através do consumo. Se a criança não tem as últimas novidades para apresentar na comunidade, na escola, aos seus amigos, seu conceito de gente, de humano, é inferiorizado.
O Falcão não é um caso de polícia, não é uma denúncia, não é uma lamentação. Falcão é sobretudo uma chance que o Brasil vai ter para refletir sobre uma questão do ponto de vista de quem é o culpado e a vítima. Falcão é uma convocação para que a ordem das coisas seja definitivamente mudada
“Falcão – Meninos do Tráfico” é o resultado de uma pesquisa iniciada em 1997 pelo rapper MV Bill e seu produtor, Celso Athayde. Durante seis anos, eles aproveitaram o calendário de shows para percorrer comunidades de todos os cantos do Brasil com uma câmera digital na mão e uma idéia na cabeça: registrar depoimentos e imagens dos garotos que trabalham no tráfico com o olhar de quem busca compreendê-los e não condená-los.
Falcão foi uma denúncia desse abandono que todas as comunidades sentem, pois, a não-presença do Estado nas favelas abre caminho para o fortalecimento das facções criminosas que se prevalecem desses meninos que não têm acesso ao mínimo de estrutura em educação, saúde e lazer.
A violência é um fenômeno encontrado em toda a história e que, em alguns momentos, aparece registrada de forma mais evidente e chocante.
a violência que ganha cada vez mais destaque nos noticiários sempre esteve presente na sociedade brasileira, especialmente dirigida aos grupos mais pobres. "Nosso país teve quase 400 anos de escravidão, período em que atos violentos de tortura eram legais e encarados com naturalidade pela maioria das pessoas.
Em pleno século XXI, as grandes metrópoles brasileiras apresentam ares modernos, mas estrutura social arcaica em diversos aspectos. Ney Couto Marinho atribui esse anacronismo a uma entrada ainda não consolidada na Modernidade. "Ainda não tivemos tempo de nos habituar com o Estado de Direito, a cidadania, a igualdade de oportunidades para todas as classes. Parte do povo não sente a lei a seu favor. Desconfia de que não será ouvido e, sim, perseguido sob a suposição de que ser pobre é ser suspeito."
De acordo com a “Análise dos custos e conseqüências da violência no Brasil”, estudo do Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (Ipea), publicado em junho de 2007,
estima-se que, em 2004, o custo da violência no Brasil tenha chegado a R$ 92,2 bilhões, ou 5,09% do Produto Interno Bruto do País. O cálculo leva em consideração gastos ou investimentos públicos e privados, tais como internações, pensões, perdas materiais, aplicação de recurso em segurança, despesas com proteção de carros, entre diversos outros itens.

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